Publicado em Interessante
Tags: a cidade do sol
Ana... sou jornalista porque o som das palavras sempre gritou mais alto em minha vida.
Amo ouvir música, ler poesia (dá pra perceber?), livros (sem obrigatoriedade), sonhar. De tanto minha mãe afirmar, tenho certeza que sou chata, mas sei que ela me ama mesmo assim. Gosto mais do salgado do que do doce, mas sempre que como o doce tenho vontade de comer algo salgado... Ainda acredito nos seres humanos, na vida, no amor, e isso não é somente um sonho, lutar é sempre a melhor escolha.
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O que vi do universo
até hoje foi pouco
mas, se penso em quanto meço,
posso dizer que foi muito.
Sei, de ler, que o universo
é de tais dimensões
que a própria luz só o atravessa
depois de bilhões e bilhões
de anos, e que nele há
multidões de galáxias e sóis
que talvez já morreram, antes
de chegar sua luz até nós.
Deste modo, é correto dizer
que o céu que ora espio é passado
e que até pode ser que
o universo que vejo já se tenha acabado.
Mas, de fato, não vejo
a não ser nas revistas
de astronomia: o lampejo
espantoso de infinitas
constelações a brilhar
num abismo espectral e difuso
de gases e poeira estelar
que me deixa confuso.
E assim, assustado e mudo,
bem menor que um ínfimo
grão de poeira, contudo,
sou capaz de apreender, no meu íntimo,
essas incontáveis galáxias,
esses espaços sem fim,
essa treva e explosões de lava.
Como tudo isso cabe em mim?
O fato é que qualquer vasta nuvem
prenhe de sóis já mortos ou futuros
não possui consciência, esse obscuro
fenômeno surgido aqui na Via Láctea,
ou melhor, na Terra, e talvez
somente nela, não se sabe por que,
mas que permite ao cosmos perceber-se
a si mesmo, e ter olhos pra se ver.
Olhos que são os nossos,
lentes minúsculas mas sensíveis
que captam a luz das nebulosas
vinda de espaço e tempo inconcebíveis.
É o que dizem, pois tudo
o que vejo é, à noite, apenas o brilhar
de distantes luzes no escuro.
São estrelas? planetas do sistema solar?
Somos algo recente e raro
no universo, como rara
é também a própria luz
dos sóis deste sol que nos aclara.
Todo o universo é treva.
Inalcansável vastidão escura
dentro da qual os sóis, as explosões
de gás e luz são exceções.
O universo na sua vastidão vazia
é espaço e treva, é matéria fria
em que não há o mínimo sinal
de vida ou consciência; o que é mental
nele, ao que se sabe, está em nós,
no mínimo do mínimo do existente
e o que também na treva luze é nossa voz
inaudível no espantoso vão silente.
Vi pouco do universo: afora a asa
de luz e pó da via Láctea, o que conheço
são as manhãs que invadem minha casa